terça-feira, 30 de outubro de 2012

[Conto] Caso de Borracha


     Quarta-feira, larguei do trabalho às 18:00, enquanto estava no engarrafamento de Boa Viagem, Recife-PE, liguei para minha namorada.

- Helena, sou eu, e aì? Confirmado nossa ida pro sítio?
- Tudo certo, amanhã a gente sai a noite e volta no domingo.
- Ok então. Estou no trânsito depois a gente se fala, beijo.
- Tchau, beijo.

     Serão pouco mais de três dias no campo, acho que vai ser ótimo para dar uma revigorada no corpo e na relação com Helena. No outro dia tudo ocorreu como de rotina. Ao sair do trabalho, parei no mercado para comprar comida e bebidas, pois era o tempo suficiente para Helena chegar. Como suas coisas estavam prontas, não demorou muito nossa saída da cidade, seguindo em direção a zona da mata, Vicência - PE.
     Depois de duas horas de viagem, estávamos em Vicência, mais iríamos para um pequeno vilarejo no alto dos morros, localizado a uns 14 km de distância. No nosso caminho apenas os faróis do carro iluminavam a estrada, não havia postes nem civilização, só algumas casas isoladas ao longo do caminho. Antes de chegar no centro do vilarejo ficava minha pequena casa, toda de madeira, de estilo bem rústico, afastada da estrada de barro devido à poeira que levantava quando outros carros passavam. Entre as árvores foi onde escolhi levantá-la, em terras de herança familiar. No quintal da casa construí um terraço que me dava uma gratificante visão das serras da região, por ser no alto, o clima era muito agradável.
     Chegamos por volta de meia-noite, os termômetros marcavam 16ºC, ventos fortes, céu limpo e a região totalmente às escuras. Estávamos retirando as malas e compras do carro quando um facho de luz passou sobre nossas cabeças, muito próximo do chão. Era um objeto do tamanho aproximado de uma moto, iluminando toda a região, como se a lua cheia estivesse caindo sobre nós. Rapidamente associei a um meteorito, ele brilhou em sua passagem por um período de sete segundos e fez um pequeno estrondo ao cair.
     Eu estava perplexo, por gostar de astronomia e ver um objeto passar por mim e cair tão próximo.
fiquei louco para tentar achar o local da queda. Mas Helena pediu para eu ficar em casa e procurar pela manhã, acabávamos de chegar, estávamos cansados e precisávamos organizar nossas coisas e nos acomodarmos. Era madrugada e ainda não conseguia dormir, ansiando para que o dia amanhecesse,  maravilhado com aquele brilho e aquela velocidade. Fui até o terraço com a vista para as serras. Enquanto fumava um cigarro, mirava em direção onde supostamente tinha caído o meteorito. Terminei de fumar e então fui dormir.
     Acordei às 06:00, troquei de roupa, chamei Helena e rapidamente saímos de casa, mesmo sem tomar café da manhã. Após 30 minutos, chegamos na área onde eu tinha minhas suspeitas da queda do objeto. Achávamos que seria fácil avistar uma pequena cratera, mas nada encontramos. Helena seguiu uma direção e eu, desbravando um mar de plantação de cana-de-açúcar, fui subindo um pequeno morro para ter uma visão mais ampla. Para minha decepção, nada encontrei. Impossível, pensei. um objeto como aquele e com aquela velocidade seria o bastante para deixar uma boa parte dessa plantação destruída.  Rodamos pela área por mais algum tempo e enfim desistimos. Entramos no carro, dei partida mas o carro não ligou. Estranho, era um modelo novo e nunca se comportara assim. Tentei novamente e deu certo. Voltamos para  casa, peguei meu notebook, acendi um cigarro e fui escrever sobre o assunto. Isso ocupou o resto da minha manhã.
     Na hora do almoço fomos até o vilarejo, comemos por lá e passeamos um pouco. Ao voltar para casa,  cochilamos. Acordei quando o sol acabara de cair, levantei e fui até a sala para acender algumas luzes, pois a casa estava às escuras. Já me sentindo mais revigorado, fui até o terraço, respirei o ar gelado profundamente, senti o vento frio bater forte no meu corpo. Com uma mão aparei o vento próximo ao meu rosto, com a outra coloquei um cigarro na boca, risquei o isqueiro três vezes e então acendi. Assim que dou meu primeiro trago, escuto um ronronado, não tão alto, porém firme, mais firme que um animal de pequeno porte, em um tom grosso e agressivo. Fiquei atento olhando em direção ao matagal, procurando de onde teria vindo o som. Nada vi e também não ouvi mais barulho. Terminei de fumar e entrei na casa. Helena acabava de acordar e não vi necessidade de contá-la sobre o estranho som, afinal poderia ser qualquer animal.
     A cada hora o clima ficava mais frio, o céu permaneceu aberto e o vento gelado batendo forte. Organizei um jantar no terraço, onde coloquei uma pequena mesa, duas cadeiras e umas velas dentro de um protetor de vidro. Comemos um Frango à Parmegiana, acompanhado por um Bourgogue, Pinot Noir, da safra de 2004. Terminando a refeição, continuamos bebendo o vinho e degustando deliciosos queijos Boursin e Chévre, que Helena tinha fatiado. Rimos bastante e conversamos sobre vários assuntos de nosso cotidiano.

- Um brinde, ao nosso namoro que fez dois anos e conseguimos superar as dificuldades que tivemos.
- E um brinde a nós, Ramon,  por levar essa relação a sério e...

Um som estarrecedor cortou o silêncio da noite e a fala de Helena. Outro som forte e agressivo fez com que me levantasse da cadeira no impulso. Mandei Helena entrar e trancar as outras portas da casa, quando novamente escutei o ronronado, dessa vez mais grave e mais perto. Parei na porta e posicionei metade do meu corpo dentro da casa, tentando enxergar algo ou qualquer movimento no matagal e arbustos. A luz externa da casa ajudava pouco no meio de tanta escuridão. Passei a vista lentamente da esquerda para a direita, quando vi um pequeno balançar nas folhas do arbusto, forcei a vista para tentar focalizar e melhor enxergar e então me arrepiei por completo. Meu coração acelerou e minhas pernas tremeram. Um par de olhos grandes e amarelos encaixado em uma cabeça achatada me encarava fixamente. Parecia ser alto, estava de pé sobre duas pernas. Durei de quatro a cinco segundos encarando a criatura, paralisado de medo. Logo, tratei de pôr minha outra metade do corpo para dentro da casa. Escutei o matagal farfalhar e pisadas fortes e rápidas vindo em minha direção. Desesperado, passei o ferrolho na parte de cima da porta e, assim que fechei o de baixo, uma pancada forte na porta fez um estrondo se propagar dentro da casa. No susto cai para trás e, de olhos bem abertos, olhava para a porta esperando que ela não quebrasse com um segundo impacto. Helena me ajudou a levantar e me entregou um bastão de madeira maciça. Ficamos juntos, em total silêncio, esperando por alguma tentativa de arrombamento, olhando para portas e janelas e tentando escutar passos. Estávamos totalmente à deriva. Vinte minutos se passaram e começamos a relaxar um pouco.

- Acho que já foi...
- O que era isso? Escutei uns sons horríveis! E pelo impacto na porta parecia grande.
- Era grande sim, mas nunca vi uma criatura dessa nem na TV, nem na internet.
- Liga para a polícia.
- O celular não tem cobertura aqui.
- Ramon, não inventa de abrir essa porta durante essa noite, tá me entendendo?
- Sim, também estou assustado. Não vou sair.

Tentei explicar a ela com detalhes o que eu tinha visto, depois ela dormiu ao meu lado no sofá. Peguei o notebook e tratei de escrever sobre esse estranho feriado que nós estávamos passando. Não sei de onde veio a criatura, mas não consigo deixar de associar o meteorito a tudo isso. Era para eu ter desconfiado de uma luz tão brilhante e tão

...

- É aqui que acaba, seu delegado.
- Certo, oficial Marcos. Anote pra mim a data e hora da última linha escrita, é possível isso?
- Vou tentar, senhor.
- Que fim trágico para um casal tão novo! Do jeito que foram mortos, descarto qualquer possibilidade de roubo ou estupro. Os corpos estão ferozmente mutilados e outros dois moradores dessa região foram encontrados mortos com as mesmas características. O detalhamento dos fatos no computador desse jovem jornalista Ramon pode ser a chave pra nos ajudar a saber com o que estamos lidando.

- Delegado, última mensagem foi de 01:25 do dia 03.11.12
- Marcos, pelo visto vamos ter que mandar evacuar o vilarejo de Borracha.



quarta-feira, 24 de outubro de 2012

[Direitos Humanos] Análise sobre vídeo de suspeito de estupro.


    Recentemente um vídeo circulou na internet no qual mostra uma repórter na Bahia entrevistando um rapaz suspeito de estupro. O caso tomou repercussão porque a repórter usa de sua "autoridade" jornalística fazendo perguntas ofensivas à uma pessoa ainda não julgada e algemada.

O vídeo foi ao ar em vários programas de TV, especialistas e psicólogos comentando a falta de respeito e ética profissional da repórter que ridicularizava o seu entrevistado. "Onde estão os direitos humanos", Diziam os entrevistados do programa. Como se trata de um rapaz humilde, ele não tem conhecimentos de seus direitos e se sente na obrigação de responder tudo o que a repórter pergunta. assistam:




Concordo que a repórter foi ingenua ao acreditar que se fazendo superior iria sempre levar vantagem sobre seus "entrevistados" algemados, do qual ela é acostumada a fazer suas matérias. A ética profissional dela passou longe, desrespeitando sim o "acusado".

Mas é ai onde eu me levanto pra falar sobre um aspecto que vem me incomodando, Talvez esse caso não tenha sido o primeiro e nem o ultimo a abordar a falta de direitos humanos dos "suspeitos", mas eles estão começando a saber de seus direitos e levam isso ao extremo, como se fosse solver seus problemas, o que vem acontecendo é que a maioria dos suspeitos agora querem seus direitos humanos, e acaba por ter um tratamento diferenciado, não digo só suspeitos mas até bandidos presos em flagrantes e bandidos que assumem seus crimes, não quero dizer que um pague por todos os crimes dos outros, mas como essa informação (direitos humanos) também chega nos bandidos eles estão se tornando mais "resistentes" perante a policia, fazendo eles cometerem seus crimes e não ter tanta preocupação ser for pego, eles estão sabendo como o sistema funciona. Bandidos ou suspeitos tem que temer uma delegacia, mas eles estão achando que é um playground, dando exemplo aos seus amigos da favela, que o vêem na TV e o acham uma "comédia" virando uma especia de "ídolo" temporário e outros vão querer aparecer também, para aparecer terão que cometer crimes, cometem sem dó pois sabem que em muita coisa não vai dar.

Encerro com um exemplo que vi essa semana através do G1. Uma garota de 15 anos morreu porque não entregou a bolsa ao bandido, ela não reagiu, apenas não quis entregar a bolsa. o ladrão abriu fogo e ela morreu horas depois no hospital. Os suspeitos foram presos horas depois, eram três rapazes e um deles confessou ter assassinado a garota, sem demonstrar nenhum remorso, e rindo falou: "é o que acontece quando se reage a um assalto."

link da noticia: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2012/10/ela-nao-quis-entregar-bolsa-diz-namorado-de-jovem-morta-em-sp.html